quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Projeto de alunos de Rubiataba sobre inclusão de insetos na alimentação faz sucesso na Costa Rica


Prato de Maria Sônia, moradora de Uruaçu, degustado no feriadão de 15 de novembro – Foto: Antônio Valdson

Recepção de Raquel Teixeira aos alunos e ao professor (esq.), em Goiânia – Foto: Seduce/Divulgação
A secretária de Educação, Cultura e Esporte, Raquel Teixeira, recebeu no Aeroporto Internacional de Goiânia na manhã de 14 de novembro, dois alunos e um professor do Colégio Estadual de Tempo Integral Levindo Borba, de Rubiataba, cidade do Vale do São Patrício goiano. Selecionados para apresentar projeto de entomofagia, que é o consumo de insetos por seres humanos, na Expo Ingeniería 2016, na Costa Rica, eles viajaram com o apoio da Secretaria de Educação, Cultura e Esporte (Seduce) e representaram a turma da disciplina Iniciação Científica. Gabriel Lemos (8º Ano) e Lucas Lincoln (9º Ano), ambos de 14 anos, expuseram na cidade de San José o estudo Avaliação da Aceitabilidade Cultural de uma Forma Alternativa Alimentar com Base em Insetos.
“Foi uma experiência única”, disse o professor de Iniciação Científica, Matheus Fernando da Silva, orientador do projeto, que viajou junto com os alunos. O mais importante foi expandir ao pensamento deles e dos que estão lá na escola mandando mensagens empolgadas para a gente continuar desenvolvendo projetos desse tipo. Eles tiveram a oportunidade de conhecer um mundo novo, conhecer um novo país, aprender a falar uma nova língua e voltaram, acredito eu, diferentes”, completou.
“Nessa manhã de feriado chuvoso em Goiânia, gostoso para ficar na cama, o que me inspira, me move e me alimenta é poder receber esses alunos brilhantes, que nos representaram tão bem na Costa Rica”, disse Raquel Teixeira. “Continuem pesquisando, buscando e aprendendo”, comemorou.
Os alunos foram aplaudidos pelos demais passageiros no desembarque e disseram que a experiência foi muito empolgante. “Acho que nunca vou me esquecer”, comentou Lucas. “Nosso estande era o mais lotado”, entusiasmou-se Gabriel. Eles também foram recepcionados pelo professor de matemática Leizzer Vieria Duarte. “Esta turma está quebrando tabus, estamos todos muito orgulhosos”, disse o professor encarregado pela Subsecretaria Regional de Rubiataba de levá-los de volta ao município.

Inglaterra
A iniciativa dos alunos da rede pública estadual de Goiás foi a única selecionada do Centro-Oeste brasileiro para participar da Expo Ingeniería. O estande dos goianos atraiu as atenções e os garotos impressionaram a organização do evento por apresentar o projeto em espanhol. Aspirante a cientista, a turma garantiu vaga para demonstrar o estudo em outro renomado evento internacional, o London International Youth Science Forum, realizado na Inglaterra. Aguarda apenas a chegada do convite oficial. O objetivo do grupo agora é produzir o alimento alternativo em quantidade suficiente para doar à comunidade.

Saiba sobre a entomofagia
De acordo com o Matheus, o estudo sobre a inclusão de insetos na alimentação surgiu por causa de uma região carente de Rubiataba. “Fizemos questionários socioeconômicos e descobrimos que a maioria das famílias consome carne três vezes por semana. Então estamos tentando criar uma alternativa mais econômica para suprir o fornecimento de proteínas”, disse Matheus.
Muito comum em alguns países da Ásia e da África, a entomofagia está sendo estudada na escola do interior de Goiás desde o começo do ano. Uma sala foi reservada para a criação de insetos das espécies Tenebrio molitor sp. e Zophobas morio sp. “Acompanhamos toda a sua evolução: primeiro ovo, depois larva, pupa e besouro. O caso mais indicado para alimentação é a larva, que pode conter até 70% a mais de proteína que o frango, por exemplo”.
Os alunos Gabriel e Lucas, junto a outros colegas de turma, são responsáveis pela manutenção do criadouro. Periodicamente eles verificam se há comida (batata, aveia e trigo) suficiente para as larvas, entre outras atividades. Os bichos ficam armazenados dentro de caixas de plástico ou papelão. Quando atinge a condição de larva, a iguaria geralmente é consumida viva ou assada. Também acompanha os mais diversos pratos doces ou salgados.
Professor Matheus disse que a produção dos insetos já é um sucesso. O próximo passo agora é trabalhar na ruptura cultural das pessoas, fazendo com que a entomofagia seja encarada com naturalidade. “A aceitação dos adultos ainda é baixa. Já entre as crianças, especialmente os alunos do colégio, é quase 100%. Os estudantes vivem atrás de mim querendo comer”, explica.

Expo Ingeniería
O evento existe desde 2008 e é uma iniciativa do Ministério da Ciência e Tecnologia da Costa Rica.
A Expo Ingeniería reúne estudantes da América do Sul e América Central, com o objetivo de promover o desenvolvimento de habilidades, despertar o interesse dos adolescentes e jovens por estudos e pesquisas.

Uruaçu
Iguarias gastronômicas desse naipe, em geral não são tão comuns realmente e, de fato, a cultura brasileira quanto ao assunto ainda não é popular, conforme observa Professor Matheus, de Rubiataba.
Em postagem de 16 de novembro no Facebook, o comerciante Antônio Valdson (proprietário da RCN Radiadores, sediada em Uruaçu), apresentou um prato contendo dezenas de bundas de formigas tanajuras. Falando ao Jornal Cidade, ele informou que a esposa Maria Sônia preparou o prato no pequeno sítio deles, situado às margens do lago Serra da Mesa e que o produto foi capturado no interior da própria área rural.
Nesta época do ano é quando, em grau maior, as também chamadas içás deixam seus sauveiros e em voo (considerado mortal) na direção dos machos, acasalam-se e dão origem a nova colônia.
Comentando ser mais gostoso comer o inseto na opção farofa, o mesmo narrou que foi bem preparado e que degustou tranquilamente. “Minha esposa é do Mato Grosso e lá isso é comum”.
Morador do interior paulista, Mauricio Lopes comentou na postagem do apelidado Valdson Cumpadi: ‘Aqui na minha região isso é chamado de içá e é um dos pratos mais caros. Um prato de farofa com esse acompanhamento chega a custar 150 reais. Eu nunca tive coragem de comer’.

Sódio, potássio, ferro e cálcio...
Em 2015, a revista Globo Rural, da Editora Globo S.A., publicou reportagem focando a temática, com o título Aperitivo de formiga, destacando que a ‘espécie de formiga tanajura é uma fina iguaria da culinária cabocla, servida torrada e consumida como se fosse amendoim’. Confira a reportagem (transcrita integralmente), assinada por Gustavo Laredo:
Quando o padre Anchieta chegou ao Brasil, um hábito curioso dos índios lhe chamou a atenção: em determinada época do ano, os nativos ficavam ansiosos para colher, aos saltos, ‘frutos’ que vinham do céu. Corriam alegres e enchiam vasos e mais vasos desse alimento que, torrado como amendoim, provocava verdadeiro deleite em toda a tribo e até nos homens brancos que o provavam. Os ‘frutos’, na verdade, eram formigas de abdômen avantajado, conhecidas por muitos como tanajuras ou içás. Segundo uma lenda indígena, foi uma cobra pequena quem ensinou aos índios consumir esse inseto. Certo dia, eles viram o réptil comendo a saúva, experimentaram e perceberam o quanto era gostoso.
De fato, o gosto da tanajura lembra muito o do camarão. No entanto, não é somente o sabor que faz desse inseto um prato bastante apreciado pelos índios e também pelos caboclos das regiões rurais do Brasil. A ‘carne’ da içá tem alto valor protéico. Segundo o biólogo Eraldo Medeiros Costa Neto, da Universidade Estadual de Feira de Santana, BA, as formigas da espécie Atta cephalotes, por exemplo, contém aproximadamente 44% de proteínas. Já a carne de frango e a de boi possuem 23% e 20%, respectivamente. Esses insetos são também ricos em sódio, potássio, ferro e cálcio. Além da Atta sexdens e da A. cephalotes, outras formigas bastante consumidas no país são: A. laevigata, A. bisphaerica, A. opacipes e A. capiguara.
Uma iguaria como essa tem seus diversos modos de preparo. Um deles, o mais comum, é torrar a formiga com óleo e sal como se fosse amendoim. Outra forma de preparar esse maná caboclo é separar as pernas, a cabeça, e misturar o abdômen com alho, farinha de mandioca e levar tudo ao fogo até formar uma paçoca. Em Santa Isabel, SP, há quem coloque tanajuras em garrafas com cachaça para deixar a bebida com gosto de mel. 

(Informações: Comunicação Setorial da Seduce. Com Redação e revista Globo Rural)

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